segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ébris

A brisa que vem de lá de fora, passando por entre as frestas da janela e chegando a mim, dizem-me que já passou das sete da noite. O dia fora agradável, como todo dia de verão. O mar lá fora é convidativo, tanto quanto fora este sofá enquanto estava ébria.
Noto gritos de crianças e um cachorro a ladrar lá fora. Percebo, também, alguém abrindo a porta. Assim, bem de mansinho, como se não tivesse a intenção de me acordar. Ouço seus passos cada vez mais próximos de mim e, segundos depois, um corpo a deitar sobre o meu. Cheiro salgado de quem há pouco veio do mar. Não se mexe, mas sinto sua boca em minha nuca, enquanto sua mão agarra-se à minha.

"The ocean takes me into watch you shaking
Watch you weigh your power
Tempt with hours of pleasure"

Conheço-te, sei que não se contenta em apenas repousar seu corpo sobre o meu. De forma suave sinto sua mão soltar-se da minha e escorrer por essa coisa quente a que chamam de pele. Não vejo, apenas sinto. Seu toque é tão suave que o compararia com o toque do vento que na janela bate. Perpassa seus dedos por sobre meus seios, que dantes estavam pressionados contra os teus, e quando chegam em meu ventre, sinto o desejo aflorar por meu corpo. 

"I watch you taste and i see your face
And i know i'm alive
Your shooting stars from the barrel of your eyes
It drives me crazy
Just drives me wild"

Sinto num beijo íntimo emergir o desejo de uma mulher devassa. Floresce em mim a necessidade de reciprocidade, mas meu corpo já perdeu sua força e está vulnerável ao que quer que o faça, que você faça. 
Lá fora, o grito das crianças parecem-me mais alto, minha cabeça parece aprisionar algo que, por sua vez, age como se estivesse a comer meu cérebro. E então acordo.

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