quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Nada mais lhe importava. Pegou suas coisas daquele lugar e foi para outro mais calmo pensar sobre sua vida. Analizou-a minunciosamente e, a cada pensamento diferente, sua raiva aumentava mais, até chegar ao ponto de colocar seus fones de ouvido a fim de cessá-los, pois estes já começavam a impulsioná-lo a tomar atitudes indevidas. O fato é que estava cheio da rotina que levava, cansado de conviver com aqueles amigos, com sua namorada e suas idas ao shopping ou a qualquer droga de lugar que lhe trazia tédio ao invés de entretê-lo.
Enclausurou-se por um certo tempo em seu quarto, com seus livros e o fiel fone de ouvido. Porém, o afastamento começou a incomodá-lo, sentia falta do calor humano, dos afagos, das risadas. E, além do mais, já até havia se esquecido do que tanto o incomodava nas pessoas. Entretanto, ao voltar a frequentar sua roda de amigos, notava certa diferença entre eles e muita indiferença para com seus assuntos. Ou seja, aquele tempo que passara distante, fez com que se esquecesse dos péssimos defeitos, mas o tal encontro, após tanto tempo, mostrou-o que isso só piorara.
Sentia-se deslocado diante daquelas pessoas. Todas com interesses tão fúteis, discutindo coisas ridículas ao seu ver. Passou a ter aversão por aquele ambiente. O que anos atrás o agradara tanto, agora dava-lhe apenas momentos tal qual aqueles filmes de comédia de quinta.
Lembrou-se, então, que há muito tempo atrás planejara mudar-se para a cidade a qual admirava desde muito pequeno. E foi a partir daí que iniciou o culto à indiferença para com essas pessoas de sua cidade. Talvez não fosse mais para estar aqui. Gostaria de não mais estar aqui.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Não ensaie tanto para escrever coisas que não serão mostradas à pessoa destinada. Você sabe disso. Não ensaie tantas conversas, montando cenas, imaginando situações, como se fosse uma peça. É bobagem. E você sabe disso.
Não tente chamar a atenção, fingindo que não o olha, querendo que ele a veja, sonhando com as coisas que você quer que seja. Não é bem assim. E você sabe disso.
Não se incomode com o nome que está ali e não é o seu. Já estivera lá uma vez. E que raios está desejando agora?! Por que raios isso está se incomodando agora?!
Está tudo estranho, tal qual está este texto. Mal configurado; bagunçado; confuso; estranho. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Far, far away from here

É Natal, e independentemente das crenças e/ou conceitos, o mundo muda nessa época do ano. Se você se influencia ou não pela magia do Natal, se acredita ou não em Papai Noel, Saint Claus, ou qualquer outro nome que demos ao bom velhinho, não importa. O fato é que, inevitavelmente, todos acabamos por mudar nossos comportamentos e rotina por, pelo menos, uma semana. Uma coisa não deve negar-se: o Natal, bem ou mal, aproxima as pessoas. Nos faz visitar alguém lá longe, a milhas de distância; nos faz ir ali, dar um abraço na vizinha ao lado, que, apesar de sempre ouvi-la fazer algum barulho ou gritar com seu filho, raramente a vê.
Mas, é Natal, e apesar da minha rotina ter mudado, me sinto deslocada. São resquícios de lembranças que me vem à mente, mostrando flashs de imagens de uma noite agradável em um lugar o qual eu não deveria ter partido. Confesso que, não fosse as mensagens que recebi, cheias de palavras carinhosas enviadas por pessoas queridas, teria preferido passar essa noite na companhia de um bom filme, seriado ou livro a ficar aqui, nesse lugar.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O platônico ante os devaneios

         Diante dos fatos aqui não apresentados por motivos óbvios, surge-me então uma dúvida: até onde os devaneios são platônicos?
         Peguei-me, noite passada, imaginando coisas irreais e reavivando coisas passadas. Dentre elas, estava uma que desejei com veemência. Entretanto, normal seria se eu já não conhecesse a mim e aos meus desejos furtivos e passageiros. Desejos que, uma vez realizados, perdem seu encanto frente a realidade ou o que quer que roube seu brilho. O fato é que, diante de tal situação, indaguei-me se melhor não seria cultivá-los, sem tentar ao menos colocar meus planos em prática para conquistá-los, já que, como bem sei, na realidade não terão graça e durarão menos que o planejado por minha mente cheia de devaneios perdidos. Mas, em contraponto, a vontade de sentir aquelas sensações imaginadas fazem-me pensar bem e, por algum momento, planejar cometer loucuras. As loucuras que me refiro, são essas que costumo fazer, que é envolver outras pessoas que nada tem a ver com minhas vontades, apenas para realizá-las. Um egocentrismo total!
         E é aí onde está a questão: deveria eu me abster de tal sensatez - que decidi ter por respeito a sentimentos alheios - ou entregar-me a tal vontade imaginando que essa, dessa vez, seja verdadeira?
         A sensatez, aliás, me deixou assim. Enquanto uma parte de mim deseja algo, outra, cautelosa, permanece morosa. De muito em quando, há uma briga entre ambas, e a situação acaba por passar. É bem melhor assim; ou talvez não.
     

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Um ou doze, dois ou vinte e quatro

De que servem os números?
Denotam as mudanças, dizem uns. Um ano após, estou mudada. Dois anos depois, somos os mesmos. Os números, afinal, de nada significam.
Um ano, para mim, foi o bastante para descobrir coisas novas, aprender o suficiente para amadurecer. Um ano, para ti, serviu para o mesmo fim. Afinal, está diferente também. O fato é que estou aqui, a te ver dois anos depois daquele fim. E veja, apesar de diferentes, agimos da mesma forma que agiríamos há dois anos. Eu, com meus doze meses de amadurecimento, e você, você...
Você que talvez tenha vivido coisas diferentes, ou a mesma daquele tempo, repetidamente. As coisas contadas assim, num encontro para reencontro, de nada valem. Pois, não sei se sabes, mas são coisas superficiais. São para mostrar o melhor que tivestes nesse tempo, ou seja, são contadas apenas as coisas boas. Entretanto, como bem sabemos, as ruins, que são as responsáveis pelo envelhecimento mental, são deixadas para lá, ou escondidinhas em um canto da mente. Não te recrimino, guardei para mim coisas que queria que não soubesses também. Mas diferente ti, tive outro motivo. Sei como ainda és, isso o tempo não te mudou. Recriminaria, decerto, meus erros e falhas. Friamente, apontaria os defeitos que ainda tenho. Isso doze meses, um ano, incontáveis experiências, ou quaisquer denotações de números e classificações de fatos que tenha tido, não conseguiram te tirar.
Hipocrisia minha estar aqui, acusando-te de apontar sempre meus defeitos, e fazendo o mesmo. Mas permita-me que o faça, apenas para, conseguinte a isso, dizer que esse é um dos poucos motivos que fazem eu querer me afastar de ti. É esse um dos motivos que mantem longe o meu corpo, que tanto te deseja. Mas, veja bem, é algo indescritível o tal desejo. Deve ser teu cheiro, ou a temperatura de tua pele. Ou os dois.
É no silêncio que nos entendemos. Nossa relação não precisaria de palavras. Poderíamos fazer uma morfologia de nossas conversas, desfragmentá-las e transformar o verbo, por exemplo, em ações; o substantivo, em gestos; os adjetivos, em sentimentos; e os artigos, seriam eu e você. Para quê palavras? Elas não mostram quem de fato você é, e sim quem você quer ser.
Enfim, números são relativos em seus significados e definições. O seu um ano, não foi o mesmo que o meu. E os doze meses então! Mas apesar dos números ter nos mudado em alguns aspectos, não mudaram aquilo que acima disse não precisar de palavras.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O rapaz do metrô

          Estamos numa sexta-feira, daquelas bem-vindas por pessoas vazias de mentes cheias de reclamações que tudo o que querem, é jogar suas mágoas em um copo de cerveja. Não obstante a noite agradável, não sou da mesma opinião de tais. Talvez porque não tenha suas ocupações, carregadas de estresse e ressentimentos por fazer uma atividade a qual não lhe dá nenhum prazer. Pois bem, sendo assim, o presente dia é para mim tal qual como os outros o é.
          Esta sexta-feira, em especial, fora um tanto quanto desanimada. Por conta da companhia, do lugar, do ambiente, não sei. O fato é que me encontro parada em frente àquela faixa azul das estações de metrô, pensando em como vou conseguir chegar a tempo em casa sem que precise levar broncas e sermões de meus pais. Enquanto espero o trem, ouço alguma música da minha Lista de Reprodução preferida e observo as pessoas ao meu redor. Pessoas que andam de metrô são, particularmente, diferentes das que andam de ônibus na minha cidade. As diferenças são claras, o motivo para sê-las não tanto. Secretamente, digo-lhe que me encaixo mais nesse certo tipo de pessoas. Não quero ser preconceituosa, seletiva, nem nada do tipo. É questão de sentir-me melhor num ambiente que em outro. Elas são quietas, permanecem quietas por toda a viagem. Observam virando-se disfarçadamente, às vezes apenas com o olhar. É engraçado; é como se fosse errado observar os outros, então elas o fazem de modo que o outro não a perceba. E quando seu interesse não é ver o mundo ao redor, ou porque está muito exausto ou porque não lhe interessa, lê seu livro e escuta sua música, como se estive em um mundo a parte. Por ter esse convívio frequente, acabei pegando tal costume.
          Porém, hoje não tenho um livro para me enclausurar em meu provisório espaço. Sendo assim, não tenho outra opção além dessa: observar. Enfim meu trem chega, entro e me acomodo no primeiro banco vazio que vejo, quase em frente à porta do lado esquerdo. "So strange how everything went wrong so fast (...)" é o que ouço logo após sentar-me, vindo daquela lista que havia dito.
          Passadas duas estações, uma música e três assuntos distintos no meu pensamento, noto à minha frente, ao lado da porta, uma pessoa que acabara de sentar-se. Um rapaz de aparência misteriosa, mais do que essas que encontramos nos metrôs. Está todo de preto, sentado de uma forma inaceitável para os modos formais. E, depois de algum tempo, percebo que observa-me incisivamente. Volto para meu dispositivo de música, mudo para a próxima - sei que o fiz para disfarçar. De uma forma geral, não gosto de ser observada, então sempre que acontece, procuro fazer algo que me disperse para disfarçar a timidez. Passados alguns minutos, olho novamente, e lá está ele a olhar-me. Dessa vez, encaro-o por mais tempo que quando o notei, mas mais uma vez desvio o olhar.
          Digo-lhe que, não sei o exato momento, mas quando dei por mim, já estávamos naquele joguinho de "me olhas, eu desvio, olho-te, tu sorris, desvio o olhar, sorris mais ainda". A essas alturas, já não identificava mais que música estava a ouvir e que estação seria a próxima. Me entreti nesse joguinho que confesso ter sido melhor que um livro. Não penses que sou futil por achar isso, o fato não é esse. Clichê, talvez. Mas veja bem, viver o clichê de uma boa história de filme ou livro faz bem a qualquer um, não é?! Diga-me o contrário e direi-te que mentes para si mesmo só para tentar ser diferente dos demais.
        Algumas estações a frente, levantou-se e se dirigou até a porta a sua direita. De costas para mim, olhava-me com o canto do olhar, parecendo esperar por uma atitude - que não veio. Talvez não fosse pessoa de primeira atitude, talvez já estivesse cheio de tomar essa tal atitude e se cansado de embebedar-se com os nãos. Na estação seguinte, desceu do metrô, olhou-me rapidamente e, maldita miopia que não me deixou ver nitidamente a expressão de seu rosto. Pouco antes da porta se fechar, fez com os ombros e braços aquele gesto que fazemos quando algo não dá certo, ou como se expressa "não foi dessa vez". Porém, entre esses dois momentos, disse algo que fez o rapaz ao lado olhá-lo de modo estranho, como quem pensa "o que esse cara está dizendo?" e que me faz perguntar a mim mesma até hoje: "mas o que será que ele disse?!". Malditos fones de ouvido.